Postado em: - Área: Imposto sobre Operações de Crédito (IOF).
Pela atual Constituição Federal (CF/1988), temos que para fins tributários o ouro pode ser dividido em 2 (dois) tipos, a saber: a) "ouro mercadoria" ou; b) "ouro ativo financeiro ou instrumento cambial". É a classificação em um ou noutro tipo que ditará qual imposto incidirá na operação, ou seja, se o ICMS ou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) (1).
Vale mencionar que é regra do atual sistema tributário brasileiro que o mesmo fato gerador não enseja a cobrança de mais de um tributo, ressalvadas 2 (duas) exceções, quais sejam, operações envolvendo tributação internacional – uma mesma operação pode ser tributada por cada país envolvido na transação – e o imposto extraordinário em caso de guerra externa ou de sua iminência.
Portanto, apesar do ouro, a depender da circunstância, poder ser fato gerador de 2 (dois) tributos distintos, eles jamais incidirão concomitantemente. É evidente que situações específicas envolvendo o ouro podem atrair a incidência de outros impostos, como o Imposto de Importação (II), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), etc., sem que isso configure bis in idem (2).
Bom, mas vamos nos situar quando estamos falando num ou noutro tipo... O ouro como mercadoria é aquele em estado natural ou industrializado o qual está sujeito ao ICMS, imposto de competência Estadual.
Por outro lado, o "ouro ativo financeiro ou instrumento cambial" é aquele adquirido para especulação e/ou reserva, submetendo-se exclusivamente à incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) devido apenas na operação de origem, conforme dispõe o artigo 153, V, § 5º da Constituição federal/1988:
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
(...)
V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários;
§ 5º O ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento cambial, sujeita-se exclusivamente à incidência do imposto de que trata o inciso V do "caput" deste artigo, devido na operação de origem; a alíquota mínima será de um por cento, assegurada a transferência do montante da arrecadação nos seguintes termos:
I - trinta por cento para o Estado, o Distrito Federal ou o Território, conforme a origem;
II - setenta por cento para o Município de origem.
(...)
Como podemos verificar, a tributação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre o ouro é exclusiva, pois afasta a incidência de qualquer outro tributo. Além disso, sua tributação é monofásica, pois o IOF será devido uma única vez na operação de origem, não distinguindo o legislador constitucional para efeito da regra imunizante, operações de renda fixa e de renda variável. Neste sentido a decisão do Plenário E. Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento do RE 190.363-RS, in verbis:
EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IOF. OURO: TRANSMISSÃO DE OURO ATIVO FINANCEIRO. C.F., art. 153, § 5º. Lei 8.033, de 12.04.90, art. 1º, II. I. – O ouro, definido como ativo financeiro ou instrumento cambial, sujeita-se, exclusivamente, ao IOF, devido na operação de origem: C.F., art. 153, § 5º. Inconstitucionalidade do inciso II do art. 1º da Lei 8.033/90.
Importante deixar claro logo de início que a caracterização do ouro como ativo financeiro decorre da sua destinação ao mercado financeiro ou à execução da política cambial, conforme definido no artigo 1º da Lei nº 7.766/1989
Art. 1º O ouro em qualquer estado de pureza, em bruto ou refinado, quando destinado ao mercado financeiro ou à execução da política cambial do País, em operações realizadas com a interveniência de instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, na forma e condições autorizadas pelo Banco Central do Brasil, será desde a extração, inclusive, considerado ativo financeiro ou instrumento cambial.
§ 1º Enquadra-se na definição deste artigo:
I - o ouro envolvido em operações de tratamento, refino, transporte, depósito ou custódia, desde que formalizado compromisso de destiná-lo ao Banco Central do Brasil ou à instituição por ele autorizada.
II - as operações praticadas nas regiões de garimpo onde o ouro é extraído, desde que o ouro na saída do Município tenha o mesmo destino a que se refere o inciso I deste parágrafo.
§ 2º As negociações com o ouro, ativo financeiro, de que trata este artigo, efetuada nos pregões das bolsas de valores, de mercadorias, de futuros ou assemelhadas, ou no mercado de balcão com a interveniência de instituição financeira autorizada, serão consideradas operações financeiras.
Além disso, prescrevem os artigos 4º e 8º da Lei 7.766/1989:
Art. 4º O ouro destinado ao mercado financeiro sujeita-se, desde sua extração inclusive, exclusivamente, à incidência do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou Relativas a Títulos ou Valores Mobiliários.
Parágrafo único. A alíquota desse imposto será de 1% (um por cento), assegurada a transferência do montante arrecadado, nos termos do artigo 153, § 5º, incisos I e II, da Constituição Federal.
Art. 8º O fato gerador do imposto é a primeira aquisição do ouro, ativo financeiro, efetuada por instituição autorizada, integrante do Sistema Financeiro Nacional.
Parágrafo único. Tratando-se de ouro físico oriundo do exterior, ingressado no País, o fato gerador é o seu desembaraço aduaneiro.
Desta forma, em conformidade com os termos da Lei nº 7.766/1989, o ouro, depois de extraído nos garimpos pode ser convertido em ativo financeiro efetuando-se o pagamento do IOF no momento em que houver a sua primeira aquisição por instituição integrante do Sistema Financeiro Nacional (SFN), autorizada pelo Banco Central do Brasil (Bacen) a praticar tais operações. O ouro circulará desde então como ativo financeiro, portanto, sem IOF, desde que comercializado no mercado financeiro, em operações realizadas com a interveniência de instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, na forma e condições autorizadas pelo Bacen.
Feitos esses comentários, passaremos nos próximos capítulos para uma análise mais detida da tributação pelo Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) das operações com ouro ativo financeiro ou instrumento cambial. Para tanto, utilizaremos como base de estudo o Regulamento do IOF/2007 (RIOF/2007), aprovado pelo Decreto nº 6.306/2007.
Notas VRi Consulting:
(1) Antes da Constituição Federal (CF/1988) o ouro era tributado Imposto Único sobre Minerais (IUM), imposto especial único de competência da União.
(2) Bis in idem ocorre "quando o mesmo ente tributante edita diversas leis instituindo múltiplas exigências tributárias decorrentes do mesmo fato gerador". Temos também o conceito de bitributação, que segundo a obra de Ricardo Alexandre ocorre "quando entes tributantes diversos exigem do mesmo sujeito passivo tributos decorrentes do mesmo fato gerador".
É considerado como ativo financeiro ou instrumento cambial, desde a sua extração, o ouro, em qualquer estado de pureza, bruto ou refinado, quando destinado ao mercado financeiro ou à execução da política cambial do País, em operações realizadas com a interveniência de instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional (SFN), na forma e condições autorizadas pelo Banco Central do Brasil (Bacen).
Enquadram-se, ainda, na definição de ouro como ativo financeiro ou instrumento cambial, o ouro:
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O fato gerador do "IOF-Ouro ativo financeiro ou instrumento cambial" é a 1ª (primeira) aquisição do ouro efetuada por instituição autorizada integrante do Sistema Financeiro Nacional (SFN).
Ocorre o fato gerador e torna-se devido o IOF:
São considerados contribuintes do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) as instituições autorizadas pelo Banco Central do Brasil (Bacen) que efetuarem a 1ª (primeira) aquisição do ouro, ativo financeiro, ou instrumento cambial.
Base Legal: Art. 37 do RIOF/2007 (Checado pela VRi Consulting em 29/03/25).A Base de Cálculo (BC) do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é o preço de aquisição do ouro, desde que dentro dos limites de variação da cotação vigente no mercado doméstico, no dia da operação. Tratando-se de ouro físico, oriundo do exterior, o preço de aquisição, em moeda nacional, será determinado com base no valor de mercado doméstico na data do desembaraço aduaneiro.
Base Legal: Art. 38 do RIOF/2007 (Checado pela VRi Consulting em 29/03/25).A alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é de 1% (um por cento) sobre o preço de aquisição.
Base Legal: Art. 39 do RIOF/2007 (Checado pela VRi Consulting em 29/03/25).O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) será cobrado na data da 1ª (primeira) aquisição do ouro, ativo financeiro, efetuada por instituição financeira, integrante do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Seu recolhimento ao Tesouro Nacional, por sua vez, deverá ser efetuado até o 3º (terceiro) dia útil subsequente ao decêndio de ocorrência dos fatos geradores.
O recolhimento do IOF deverá ser efetuado através de Documento de Arrecadação de Receitas Federais (Darf), com a utilização do código de receita 4028, no Município produtor ou no Município em que estiver localizado o estabelecimento-matriz do contribuinte, devendo ser indicado, no documento de arrecadação, o Estado ou o Distrito Federal e o Município, conforme a origem do ouro.
Tratando-se de ouro oriundo do exterior, considera-se Município e Estado de origem o de ingresso do ouro no País.
Nota VRi Consulting:
(3) A pessoa jurídica adquirente também deverá fazer constar da nota de aquisição o Estado ou o Distrito Federal e o Município de origem do ouro.
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O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) não pago ou não recolhido no prazo já mencionado no presente Roteiro de Procedimentos será acrescido de:
Registra-se que a multa de que trata a letra "b" será calculada a partir do 1º (primeiro) dia subsequente ao do vencimento do prazo previsto para o pagamento ou recolhimento do IOF.
Base Legal: Art. 47 do RIOF/2007 (Checado pela VRi Consulting em 29/03/25).A receita gerada pela arrecadação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre ouro ativo financeiro ou instrumento cambial, terá a seguinte destinação:
Através da Instrução Normativa RFB nº 2.138/2023, a Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil (RFB) veio a dispor sobre a Nota Fiscal Eletrônica do Ouro Ativo Financeiro (NF-e Ouro Ativo Financeiro) destinada ao registro de operações com ouro, ativo financeiro ou instrumento cambial, cuja obrigatoriedade deve observar as seguintes datas:
Importante mencionar que a NF-e Ouro Ativo Financeiro é um documento apenas digital, emitido e armazenado eletronicamente, cuja validade jurídica e autoria são garantidas mediante:
São obrigadas à emissão da NF-e Ouro Ativo Financeiro as instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional (SFN), autorizadas pelo Banco Central do Brasil (BCB) a operar com ouro, ativo financeiro ou instrumento cambial, nas operações listadas no artigo 3º da Instrução Normativa RFB nº 2.138/2023.
Através do Ato Declaratório Executivo Cofis nº 41/2023 restou aprovado o Manual Técnico de Orientação para a Nota Fiscal Eletrônica do Ouro Ativo Financeiro (NF-e Ouro), o qual, juntamente com as demais documentações técnicas, pode ser encontrado no link https://www.gov.br/receitafederal/pt- br/centrais-de-conteudo/ publicacoes/documentos- tecnicos/nf-e-ouro.
Base Legal: Preâmbulo e arts. 1º a 3º da Instrução Normativa RFB nº 2.138/2023 e; Ato Declaratório Executivo Cofis nº 41/2023 (Checado pela VRi Consulting em 29/03/25).Me chamo Raphael AMARAL e sou o idealizador deste Portal. Aqui, todas as publicações são de livre acesso e 100% gratuitas, sendo que a ajuda que recebemos dos leitores é uma das poucas fontes de renda que possuímos. Devido aos altos custos, estamos com dificuldades em mantê-lo funcionando, assim, pedimos sua doação.
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